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Prometeu e a contrapartida

  • vicentecevolo
  • 15 de fev. de 2021
  • 1 min de leitura

Atualizado: 25 de fev. de 2021

O mais sábio dos titãs, Prometeu, fora o grande pai dos mortais. No tempo ascentral, obsequiara os homens com o fogo furtado dos deuses, possibilitando-lhes o domínio das artes e o senhorio sobre as técnicas do mundo. “De crianças que eram, eu os fiz seres de razão”. Insolente, Prometeu permitira que a erma flor do campo, que somos nós, e que o simples roçar do vento faz desaparecer para sempre[1], ousasse participar da natureza divina, ainda que sorvendo apenas a réstia do cálice dos imortais. Porém, como nos recorda Lloyd[2], essa imensa dádiva, ofertada à plebeia existência, fora o resultado de um atrevido roubo, do qual Zeus fora a vítima e do qual se vingou, através de Pandora, condenando-nos ao trabalho árduo, à dor e à doença. Assim sendo, ao mesmo tempo em que nos equipou com a mais poderosa das asas, a capacidade de pensar, arrancando-nos da masmorra instintiva, Prometeu, indiretamente, acorrentou-nos junto de si, fazendo-nos sofrer, enquanto vivos, a contrapartida de sua audácia. Afinal, para um ser munido de asas, e que com elas voou até a raia da imortalidade, há castigo mais difícil de surportar que a consciência de sua própria miséria?




[1] Salmo 103. [2] LLOYD, Geoffrey E. R. Immagini e modelli del mondo. In: Il sapere greco. Piccola Biblioteca Einaudi. Vol. I. Torino: Giulio Einaudi Editore, 2007, p.33.

 
 
 

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