A permanência do romantismo no ciclo das reconciliações na forma do em-si
- Vicente Cevolo
- 14 de jan. de 2019
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A operatividade lógico-ontológica, que caracteriza o movimento fenomenológico, é aquela que conduz o absoluto enquanto imediato que é, i.e, a unidade abstrata entre certeza e verdade, entre ser-em-si e ser-para-si, a tornar-se o que ele efetivamente é [1], ou seja, a unidade concreta advinda da resolução da oposição interna do conceito no saber absoluto. Noutras palavras, a processualidade fenomenológica é a história essencial do doloroso calvário que leva o espírito a tornar-se reflexivamente o que ele é.Portanto, para a onto-teologia hegeliana, o Dasein ou o mero ser imediato é uma formalidade abstrata, sem à devida reflexividade fichteana, que se traduz na pura carência de conteúdo. Antes, para que este imediato alcance a dignidade do conceito que já é, não basta que ele seja simplesmente: é preciso que seja plenamente. A verdadeira imediatez é aquela que se opõe a si, no interior de si, para reeencontrar-se dialeticamente a si mesma. É um ciclo.
Nesse sentido, cria-se uma relação sinonímica entre os conteúdos semânticos dos termos conceito e sentido verdadeiro. O ‘ciclo elíptico do conceito’, que leva, pelo bloqueio excessivo e sucessivo da negatividade, à redescoberta conservativa de si, nada mais é do que o ‘ciclo do sentido verdadeiro’. O sentido verdadeiro não se encontra na noite metafísica de um fundo românico original, passível de expressão artístico-poética, ou nalguma subjacência naturalística de formas minimais, que se deixa descrever com as categorias de um pensamento calculador. Com efeito, todas as figuras ou representações que o constituem não o escrevem ou no-lo expressam, mas são suas próprias manifestações (Offenbarungen).[2]
Na experiência da consciência, o devir de tais manifestações, ou, se quisermos, o ciclo do sentido verdadeiro desenvolvido neste manifestar-se (sich offenbaren), apresenta-se a partir de duas matrizes de reconciliação, a saber,a forma do para-si e a forma do em-si. As reconcliações na forma do para-si são basicamente as diferentes alienações do si no ser, ou seja, as diversas posições assumidas pelo si ainda fora de si mesmo, revelando a profunda desigualdade do si consigo. Já as reconciliações na forma do em-si são as diferentes características do ser para a consciência, isto é, as diversas posições deste ser que ainda não fora reconduzido ao si. Trata-se aqui não mais da profunda desigualdade que dilacera o si e, simultaneamente, o reconduz a si, mas das desigualdades do ser que o fissuram e o reconduzem a ele mesmo. [3]
[1] HEGEL, G.W.F. Phenomenology of Spirit. Oxford; New York: Oxford University Press, 2004, pp.58-59.
[2] LEBRUN, G. A paciência do conceito. Ensaio sobre o discurso hegeliano. São Paulo: Ed. Unesp, 2006, p.92.
[3] HYPPOLITE, J. Genesis and Structure of Hegel’s Phenomenology of Spirit. Evanston: Northwestern University Press, 1974, p.591-593.
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