A SIMILITUDE
- Vicente Cevolo
- 20 de mai. de 2015
- 2 min de leitura

O paradigma da “convivência plural” dita regras atualmente em pedagogia. Seus defensores querem colorir a qualquer custo, na geopolítica mental do educando, as federações à esquerda no mapa do conceito de igualdade.
Forçar a convivência indiferenciada, ou seja, a coexistência entre supostos semelhantes, sem hierarquias de última instância reconhecíveis, ensina ao educando a similitude. Similitudĭne é uma figura de retórica maligna, que se diferencia da metáfora pela presença de advérbios de comparação. É maligna porque ilude dois diferentes quanto à sua natureza factual. Ao apresentar-nos elementos comuns que compartilhamos com outrem, razão da presença dos advérbios comparativos, a similitude faz-nos crer, por um rápido instante, que apesar de apenas semelhantes, somos no fundo todos iguais. Afinal, não se pode negar que há uma vontade secreta de igualdade em toda tímida constatação de semelhança. Na verdade, a similitude é puro eufemismo moral, alívio patético da inveja diante da superioridade alheia que se deseja calar, demagogia que promete o silenciamento daqueles limites insuportáveis que confirmam publicamente nossa inferioridade relativa defronte ao outro.
Mas a igualdade exequível – completação de percurso desejada, mas jamais conquistada pela convivência indiferenciada - não se alcança através do aprendizado da similitude, errôneo à partida. Mais cedo ou mais tarde, por efeito reativo à descoberta da ilusão, fomentada pela figura de retórica, a similitude conduzirá os educandos à diferenciação pelos piores caminhos. Ela estimulará o salvaguardo violento da própria ipseidade do sujeito, ameaçada por um coletivo abstrato indiferente às feridas íntimas e mazelas de sua economia egóica, estranho à liberdade individual que realmente importa.
A igualdade real não está na similitude entre diferentes. A prática dos símiles é utópica à medida que enfraquece as particularidades, que os hierarquizam, e fortalecem os elementos comuns, que mascaram as suas dessemelhanças. A igualdade possível dá-se na reciprocidade entre diferentes que se sabem desiguais.
BIBLIOGRAFIAS
ANATRELLA, Tony. La différence interdite: Sexualité, éducation, violence. Trente ans après Mai 68. Paris: Flammarion, 1998.
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