A DIFERENÇA ESTRATÉGICA ENTRE OS SISTEMAS EDUCACIONAIS BRASILEIRO E SUÍÇO
- Vicente Cevolo
- 6 de jan. de 2015
- 2 min de leitura

O sistema suíço de educação superior é infinitamente melhor do que o nosso. Sob qualquer perspectiva hermenêutica, o desnivelamento qualitativo entre os dois é drástico. A superioridade dos suíços, nesse segmento, dá-se em razão de uma miscelânea de fatores histórico-políticos e variáveis sócio-econômicas. Não é preciso estudar modelos neoclássicos de equilíbrio geral, teorias de microfundamento, doutorarar-se em Anthony Samuelson, em Harvard, para percebê-lo. Isto é notório. Mas o problema não é apenas microeconômico, fundacional ou epistemológico (apesar de sê-los tal-qualmente). Notemos que o vilão não é o homo economicus.
Sem sombra de dúvidas, a maior disparidade entre os dois modelos nevrálgicos encontra-se no plano estratégico. Na Suíça, assim como na Finlândia ou na Noruega, o aluno é pensado exatamente como aquilo que é, a saber, um ser integral, uma multiplicidade de fragmentos em dissincronia, gravitando em torno de uma ipseidade consciente. Noutras palavras, um sujeito fenomenológico que habita diferentes dimensões da existência, produzindo-se nelas e nas suas mediações. É um ser social, que utiliza transportes públicos; é um ser biológico, que se alimenta nas cantinas; é um ser com vontade de cultura, que vai à exposição de Caravaggio ou à ópera La Bohème, de Giacomo Puccini, nos fins de semana.
Em comparação com outros países, os bolseiros suíços não são os que mais ganham. A Suíça não remunera extraordinariamente os seus quadros pensantes nas universidades da Basiléia, Zurique, Genebra, etc. Devemos compreender que não é o valor das bolsas que é alto, mas os recursos é que são muitos. Isto porque o projeto político-pedagógico suíço financia prioritariamente o aluno, não o seu trabalho. O estudante, a sua integralidade pragmática e cidadã, é que está em primeiro lugar.
Com efeito, com a finalidade de priorizar “quem faz” (razão criadora) no lugar “do que é feito” (resultados da fertilidade dos campos cognitivo e artístico), investe-se em programas efetivos de saúde médico-odontológica universitária, ao invés de simplesmente aumentar o fomento à pesquisa idiossincrática; estudam-se cardápios melhor balanceados, com menor custo, para que os seus não sofram de carência nutricional; injeta-se níquel em contéudo bibliográfico de alto nível, plurilíngue, para que as investigações mestrandas e doutorais possam ser realizadas de maneira adequada, em casa, ao invés de lançar cérebros no exterior. Em síntese, cria-se um ambiente regular, pleno de padrões de normalidade e referência, para que os alunos possam simplesmente “ser”. Esta é a diferença fundamental. É míster compreendê-la, antes de locucionar bravatas irrefletidas sobre o tema ou deixar-se levar por suas ressonâncias perlocucionárias.
Certa vez um colega suíço alertou-me: “O vosso maior erro não é matemático, mas estratégico. O dinheiro público brasileiro compra o trabalho do aluno, mas se esquece do aluno, deixando-lhe à esmo. O aluno é que deve ser comprado. O bom trabalho é apenas consequência".
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